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18 de junho de 2010

O Homem Que Gostava Mais do Cão Que da Família

O cão vinha, o Homem ficava feliz;
A mulher sorria pra ele, ele não via.
O cão corria atrás do osso, ele sorria;
O filho gritava aflito "Pai", não ouvia.
O cão ladrava, ele não se incomodava;
A filha com cólicas chorava, ele estressava.
O cão à noite rosnava, ele achava graça;
A mulher refilava, ele pirava.
O cão rasgou-lhe as calças, usou-as mesmo assim, era moda;
A mulher queimou a camisa a passar, não bateu-lhe mas castigou-a.
O cão tinha sarna e carraça, pra ele era nada;
O filho a cabeça coçava, piolho era ou pior ainda.
A certa altura, fazia confusão na cabeça dos vizinhos;
Quem era família e quem era cão.
O cão morreu. Ele, quase, também;
Bebia e chorava como a morte de um filho se tratasse,
Caía inconsciente por sobre a cova do quadrúpede.
A mulher o deixou;
Com ela os filhos levou.
O Homem...
Correu mas que depressa, urgente e desesperadamente em direcção à beira do cais;
Gritou, chorou, implorou pra ela ficar.
A Mulher...
Não viu nem ouviu;
Sorriu com indiferença,
Partiu sem consciência pesada.
Não ficou triste nem chorou;
Agarrou-se aos filhos como uma cadela as crias protege.
A vida é mesmo assim;
De tanto viver-se determinada situação,
Acostuma-se à sê-lo.

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